{"id":2459,"date":"2018-01-31T14:15:30","date_gmt":"2018-01-31T14:15:30","guid":{"rendered":"http:\/\/faepe.com.br\/?p=2459"},"modified":"2022-09-26T19:50:28","modified_gmt":"2022-09-26T22:50:28","slug":"a-agropecuaria-precisa-pedir-desculpas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/faepe.com.br\/a-agropecuaria-precisa-pedir-desculpas\/","title":{"rendered":"A agropecu\u00e1ria precisa pedir desculpas?"},"content":{"rendered":"
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Nem sempre se reconhece que tudo o que fazemos envolve risco, sacrif\u00edcios e perdas<\/b><\/p>\n<\/div>\n<\/blockquote>\n

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Nos primeiros dias deste ano tomamos conhecimento de um fato inusitado: o presidente do Banco Central (BC) teve de enviar uma carta ao ministro da Fazenda para se explicar pelo fato de a infla\u00e7\u00e3o de 2017 ter ficado um pouco abaixo do piso da meta. Desde que o regime de metas de infla\u00e7\u00e3o foi adotado entre n\u00f3s, \u00e9 a primeira vez que isso se verifica. Deveria ser motivo de celebra\u00e7\u00e3o, e n\u00e3o de explica\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

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Depois de muitos anos de infla\u00e7\u00e3o elevada e cr\u00f4nica, a sociedade brasileira deveria ter horror \u00e0 alta de pre\u00e7os, como a popula\u00e7\u00e3o alem\u00e3, que mesmo em tempos de recess\u00e3o reluta em admitir qualquer flexibiliza\u00e7\u00e3o monet\u00e1ria. Mas somos um povo fascinado pelo presente e esquecemos, com facilidade, nossas piores experi\u00eancias.<\/p>\n

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\u00c9 sempre bom recordar que durante muito tempo houve entre n\u00f3s uma clara divis\u00e3o ideol\u00f3gica acerca do combate \u00e0 infla\u00e7\u00e3o, o que explica, em parte, sua presen\u00e7a persistente em nossa Hist\u00f3ria. As esquerdas \u201cprogressistas\u201d denunciavam as pol\u00edticas anti-inflacion\u00e1rias como um programa conservador, contr\u00e1rio ao crescimento e a servi\u00e7o do capitalismo internacional.<\/p>\n

Muito recentemente vimos outra vez esses \u201cprogressistas\u201d desdenharem as pol\u00edticas de equil\u00edbrio e deixarem a infla\u00e7\u00e3o ultrapassar os dois d\u00edgitos, mesmo diante da maior recess\u00e3o de nossa Hist\u00f3ria. Felizmente, esse tempo parece ter passado, se \u00e9 que os encantos do populismo irrespons\u00e1vel n\u00e3o v\u00e3o, mais uma vez, iludir o nosso povo nas elei\u00e7\u00f5es do final do ano.<\/p>\n

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A infla\u00e7\u00e3o de 2017 traz algumas li\u00e7\u00f5es. Como disse o presidente do BC, infla\u00e7\u00e3o baixa \u00e9 boa, n\u00e3o ruim, e n\u00e3o h\u00e1 nada de errado em estar abaixo do piso prometido. Infla\u00e7\u00e3o de quase 3% n\u00e3o \u00e9 nada fora da curva. A infla\u00e7\u00e3o norte-americana em 2017 estar\u00e1 em 2,1% e a da zona do euro, em 1,5%. Estamos s\u00f3 caminhando em dire\u00e7\u00e3o a um ambiente civilizado e mais justo.<\/p>\n

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O desvio da infla\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o ao centro da meta, de 4,5%, \u00e9 quase totalmente explicado pelo comportamento dos pre\u00e7os dos alimentos, que tiveram durante o ano defla\u00e7\u00e3o de 4,85%. Se excluirmos do IPCA o subgrupo alimenta\u00e7\u00e3o, a infla\u00e7\u00e3o de 2017 teria sido de 4,54%.<\/p>\n

Mais uma vez a agropecu\u00e1ria brasileira \u00e9 um fator virtuoso na economia do Pa\u00eds. Primeiro, produziu os saldos comerciais que nos livraram das restri\u00e7\u00f5es hist\u00f3ricas da nossa capacidade de importar. Agora, melhora a qualidade de vida das popula\u00e7\u00f5es mais pobres e joga a infla\u00e7\u00e3o para baixo. Mas, tal como na hist\u00f3ria das \u201cexplica\u00e7\u00f5es\u201d devidas pelo BC, estamos sempre precisando nos explicar. Somos acusados de ser um segmento privilegiado pelo governo e pelo Congresso, de sermos predadores do ambiente e fator de desigualdade e injusti\u00e7a social, devendo, portanto, estar sempre pedindo desculpas aos setores \u201ciluminados\u201d da nossa elite pol\u00edtica e intelectual.<\/p>\n

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Nem sempre se reconhece que tudo o que fazemos envolve risco, sacrif\u00edcios e, tamb\u00e9m, perdas. Atr\u00e1s dos n\u00fameros frios da defla\u00e7\u00e3o dos alimentos h\u00e1 a realidade de numerosas atividades que n\u00e3o est\u00e3o gerando retorno econ\u00f4mico e algumas em que as margens se tornaram negativas. Os custos da produ\u00e7\u00e3o \u2013 sal\u00e1rios, combust\u00edveis, fertilizantes, defensivos \u2013 seguiram subindo e os pre\u00e7os declinantes dos produtos significam preju\u00edzo para agricultores e pecuaristas.<\/p>\n

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Em 2017 os pre\u00e7os do feij\u00e3o carioca ca\u00edram 46%, os do a\u00e7\u00facar cristal, 22% e do arroz, 11%. De modo geral, seja no mercado dom\u00e9stico, seja nas exporta\u00e7\u00f5es, a maioria dos nossos pre\u00e7os caiu. No conjunto, o grupo dos cereais, legumes e oleaginosas teve, no ano, uma queda nos pre\u00e7os de 25% e as frutas, 16%. O mesmo na pecu\u00e1ria: o pre\u00e7o do leite para o produtor fechou 2017 com valor 6% menor que a m\u00e9dia de 2016 e o da arroba do boi teve queda de 10%. Os consumidores ganharam, mas os produtores perderam.<\/p>\n

Os dois anos de recess\u00e3o e encolhimento da renda por habitante provocaram forte diminui\u00e7\u00e3o da demanda de consumo das fam\u00edlias, principalmente as de renda mais baixa, e a agropecu\u00e1ria brasileira, apesar de ser uma m\u00e1quina exportadora muito eficiente, destina a maior parte de sua produ\u00e7\u00e3o ao mercado interno. Quando a economia vai mal, n\u00f3s vamos pelo mesmo caminho.<\/p>\n

Vivemos um paradoxo. Os n\u00edveis de produ\u00e7\u00e3o e produtividade de nossa agropecu\u00e1ria crescem a cada ano, salvo algum desvio causado por condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Os investimentos para aumentar a produ\u00e7\u00e3o, introduzir novas tecnologias e assegurar maior sustentabilidade ambiental t\u00eam se mantido sem interrup\u00e7\u00f5es, apesar das incertezas da economia. Mas a situa\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica dos produtores rurais est\u00e1 longe de ser brilhante. Se a agropecu\u00e1ria vai muito bem, o mesmo n\u00e3o se pode dizer da maioria desses produtores.<\/p>\n

As margens de retorno econ\u00f4mico para o produtor s\u00e3o influenciadas por fatores que est\u00e3o fora do seu controle, em especial os custos log\u00edsticos, que oneram a produ\u00e7\u00e3o e capturam boa parte dos pre\u00e7os finais de venda aos consumidores. S\u00e3o investimentos que o Pa\u00eds n\u00e3o realizou e cujo impacto afeta desproporcionalmente os produtores rurais, que tiveram a aud\u00e1cia de ocupar nosso imenso territ\u00f3rio, colonizando-o com grandes sacrif\u00edcios, para proveito de toda a sociedade.<\/p>\n

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Organiza\u00e7\u00f5es internacionais atestaram, recentemente, que a produ\u00e7\u00e3o rural no Brasil era a menos subsidiada entre as grandes na\u00e7\u00f5es produtoras. Agora, com a queda da Selic, os juros do cr\u00e9dito rural n\u00e3o envolvem mais custos de equaliza\u00e7\u00e3o para o Tesouro.<\/p>\n

Tudo isso somado, penso ter passado da hora de certas elites urbanas fazerem as pazes com a verdade e abandonarem representa\u00e7\u00f5es mentais da economia rural brasileira que j\u00e1 n\u00e3o correspondem ao mundo real, mas continuam sobrevivendo nas mentalidades, como uma cortina que n\u00e3o deixa passar a luz.<\/p>\n

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O come\u00e7o do ano \u00e9 sempre um tempo de esperan\u00e7as. Espero que daqui para a frente nem o presidente do BC precise mais pedir desculpas pela infla\u00e7\u00e3o baixa nem os produtores rurais precisem pedir desculpas pelo bem que realizam.<\/p>\n

*Jo\u00e3o Martins da Silva Junior, presidente da Confedera\u00e7\u00e3o da Agricultura de Pecu\u00e1ria do Brasil (CNA)<\/strong><\/p>\n

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Fonte:\u00a0http:\/\/opiniao.estadao.com.br\/noticias\/geral,a-agropecuaria-precisa-pedir-desculpas,70002156500<\/a><\/p>\n

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A agropecu\u00e1ria precisa pedir desculpas?<\/span> Leia mais »<\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":2460,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"site-sidebar-layout":"default","site-content-layout":"default","ast-global-header-display":"","ast-main-header-display":"","ast-hfb-above-header-display":"","ast-hfb-below-header-display":"","ast-hfb-mobile-header-display":"","site-post-title":"","ast-breadcrumbs-content":"","ast-featured-img":"","footer-sml-layout":"","theme-transparent-header-meta":"","adv-header-id-meta":"","stick-header-meta":"","header-above-stick-meta":"","header-main-stick-meta":"","header-below-stick-meta":"","footnotes":""},"categories":[13,12],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2459"}],"collection":[{"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2459"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2459\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":3534,"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2459\/revisions\/3534"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2459"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2459"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/faepe.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2459"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}