Lições do campo repassadas adiante
Pio Guerra tem como objetivo transformar vidas, dando assistência a gente que trabalha e deseja prosperar
Nascido no Recife e emancipado aos 14 anos, Pio Guerra aprendeu desde cedo a lidar com os negócios do campo. A vivência nas propriedades rurais da família em Vicência e em Vertentes, assumidas por ele e pelos irmãos, desde adolescentes, provocaram-lhe o gosto por plantações, por animais, por tecnologias e, principalmente, por ajudar a criar oportunidades de crescer no meio rural. Ele coloca essa atividade em prática a cada dia, quando analisa projetos e incentiva a criação de programas especiais nas instituições que preside. Por sua dedicação aos empreendedores pernambucanos, ele é um dos homenageados com o prêmio Orgulho de Pernambuco, concedido pelo Diario de Pernambuco às pessoas e instituições que se destacaram ao longo do ano.
Atualmente, o agrônomo formado na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) é presidente da Faepe (Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco), Sebrae-PE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Pernambuco) e do Senar-PE (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Para ele o objetivo final é dar assistência a gente que deseja prosperar, capacitar mão de obra, transformar vidas. “No Sebrae nacional, participei da reunião de sua constituição e fui eleito por duas vezes seu presidente. Na Faepe e na CNA (Confederação Nacional da Agricultura), fui o presidente mais novo a ser eleito. “Sempre participei das atividades civis e sindicais representantes da área da agricultura”, ressalta.
Por sua expertise, é muito procurado para costurar parcerias, integrar conselhos e até se envolver em iniciativas do setor. Seletivo, analisa muito bem cada oportunidade e só participa quando sente que pode dar o máximo de si naquela função. Nada é feito pela metade, tudo está bem colocado em sua trajetória, construída com o esmero de um arquiteto. Em reconhecimento ao seu trabalho já foi agraciado com vários títulos e comendas, entre eles o de Comendador da Ordem do Rio Branco, concedido pelo então, presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em maio de 1998.
Justo por sua experiência, não se dispõe a sempre concordar. Utiliza exemplos, documentos e estatísticas, para tecer críticas quando necessário. “Eu vejo a atividade agropecuária no Brasil ainda deficiente. É claro que vamos demorar até chegar a um patamar americano ou europeu, mas estamos trabalhando por mudanças que venham a dar mais segurança e perspectivas aos proprietários e seus trabalhadores. Ao contrário do que muita gente pensa, o agronegócio gera sim emprego e renda nas comunidades. Não é só alimento mais barato.”
Entre os desafios ainda a serem enfrentados, por exemplo, estão a difusão da boa gestão para o empreendedorismo rural, necessária para que a produção seja suficiente para atender a demanda do mercado garantindo remuneração ao fazendeiro; a luta por crédito para agropecuaristas, a fim de expandir os investimentos; e a execução de projetos de comercialização mais ousados e que desenvolvam a agropecuária do estado. O maior deles, entretanto, é um velho conhecido dos nordestinos: a seca. “É uma vergonha termos que passar por isso com resignação mais uma vez e enfrentá-la do mesmo jeito que no passado. Hoje temos tecnologias, temos pujança econômica para enfrentar as consequências. Ela não pode ser evitada, mas podemos minimizar os seus efeitos”, reclama Guerra. Segundo ele, é preciso debater o problema de forma contínua e abrangente, envolvendo diversos atores do governo e da sociedade civil, em todas as esferas. “Precisa ser um assunto de responsabilidade nacional. É inadmissível ver gente abandonada no interior onde falta até água para beber. Nossos recursos hídricos estão seriamente comprometidos e mal geridos. É incrível que se percam rebanhos, enquanto há milho de sobra nas safras brasileiras. Faltam decisão e competência nesse enfrentamento”, pontua.
O conhecimento, reforça, é o maior aliado para combater os efeitos que varrem quilômetros no sertão e no agreste. É com ele que se provocam mudanças, informando a todos os produtores e empreendedores rurais sobre as possíveis alternativas de renda. Também é a partir dele que se cria, que se inova, como muitos já fazem em universidades do Brasil inteiro. Mais de 10 milhões de pessoas estão sendo afetadas com a falta de chuvas, que já perdura dois anos. “Em 2014, quero implantar o fórum empresarial de
convivência produtiva com a seca, buscando promover uma conscientização da opinião pública para o desenvolvimento de soluções que possam ser úteis nesse enfrentamento.”
Para finalizar, Pio Guerra não pôde deixar de frisar sua quase carreira esportiva. Jogou basquete e chegou a integrar a seleção pernambucana da época; foi também remador do Clube Náutico Capibaribe. Parou devido a um acidente automobilístico, que o levou a praticar atividades mais leves. Mas ainda admira a atividade esportiva e acompanha com interesse muitas delas. E é com muito espírito de grupo que agradece o prêmio Orgulho de Pernambuco. “Uma pessoa da área da agropecuária que recebe esta deferência tem que saber que o mérito é de todos. Sinto-me lisonjeado, mas os principais responsáveis são todos quer como eu exercem a atividade empresarial como realização de suas vidas e de suas vocações”.