O El Niño se instalou e pode provocar estiagem no Nordeste

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As estiagens provocadas pelo El Niño provocam problemas econômicos e sociais no Nordeste.

Algumas das mais severas secas do Nordeste começaram com o fenômeno climático do El Niño, que está se instalando de novo. Foto: Fábio Pozzebom/ Agência Brasil.

Os efeitos do El Niño já estão sendo sentidos no Brasil: mais chuvas, que já começaram a ocorrer no Sudeste. A previsão é de que haja uma redução das chuvas e um leve aumento da temperatura no Nordeste nos próximos meses. Isso liga o alerta em entidades ligadas ao agronegócio pelo simples motivo de que algumas das secas mais severas da região começaram com um El Niño. E, na região, estiagem significa um problema econômico e social, principalmente no semiárido.

“Os órgãos públicos poderiam aproveitar este momento, construir um grupo de trabalho para tratar desta questão, incluindo Sudene, Codevasf, Banco do Nordeste (BNB), defesa civil e órgãos estaduais, se antecipando ao problema. E não ficar apenas no carro pipa”, alerta o presidente da Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco, Pio Guerra. E acrescenta: “É importante se organizar pra enfrentar o que vem por aí”.

Quando foi presidente do Sebrae-PE, Guerra organizou um fórum das secas, trazendo especialistas de outros países que também enfrentam estiagens. “O que ficou do fórum foi perceber que saber das secas, em tempo ágil, antes do problema se instalar, melhora a forma de enfrentar esta adversidade”, afirma Guerra.

presidente da Faepe, Pio Guerra, fala das consequências que o El Niño pode trazer para a região

As estiagens e o El Niño

A depender do grau de intensidade do El Niño, o primeiro a sentir o efeito da estiagem em Pernambuco é o semiárido no Agreste e Sertão. A Mata Norte só é atingida quando ocorrem estiagens mais fortes. Segundo Pio Guerra, as atividades que podem ser mais impactadas pela futura estiagem são a avicultura – que se concentra no Agreste e vai ter que trazer água mais longe para dar aos animais -, a pecuária, “porque as pastagens se degradam mais rapidamente” e produção de cana-de-açúcar, na Mata Norte.

“A estiagem beneficia a fruticultura do São Francisco que este ano não deve ter muitas chuvas no segundo semestre”, conta Guerra. Segundo dados da Faepe, quatro atividades concentraram 87% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário de Pernambuco em 2022 que são as seguintes com as suas respectivas participações: Fruticultura (30%), cana-de-açúcar (22%), avicultura (20%), pecuária bovina 15%. Isso apresenta uma certa variação, como consequência do clima e outras variáveis.

A última grande estiagem que ocorreu em Pernambuco começou em 2012 e só acabou em 2018. Em alguns lugares do Estado, foram sete anos sem chuvas regulares. Muitos criadores tiveram que se desfazer dos seus animais e o custo de atividades como pecuária e avicultura aumentou muito. Os pequenos agricultores também foram muito atingidos. A estiagem diminuiu até o nível das barragens que fazem o abastecimento de água na Região Metropolitana do Recife.

O El Niño e suas consequências

O El Niño é um fenômeno climático que se caracteriza pelo aquecimento anormal e persistente da superfície do Oceano Pacífico na região da Linha do Equador. A renomada consultoria Datagro fez uma previsão para os próximos três meses. Nas regiões Norte e Nordeste, é “esperado um clima mais quente e seco”; “as temperaturas devem ficar entre 1 e 2°C acima da média, e as chuvas de 1 a 50 mm a menos para o período”, informa o boletim emitido no dia 20 de junho. O Instituto Nacional de Metereologia emitiu um comunicado dizendo que o fenômeno se instalou e pode ter efeitos que podem durar de seis meses a dois anos.
“Este El Niño não vai prejudicar a safra (23/24) que vai iniciar em setembro porque até agora as chuvas estão caminhando de forma regular. Já para a safra (24/25), vamos precisar de chuvas regulares ”, comenta o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, acrescentando que é cedo pra ter uma previsão exata do próximo inverno.
Depois das grandes secas que atingiram o Estado nas últimas duas décadas, pelo menos duas grandes usinas e muitos fornecedores fizeram barragens e açudes nas suas propriedades para enfrentarem melhor o período de estiagem na Mata Norte, que é menos úmida. “Não veio ainda um investimento público maior na área de barragens na Mata Norte”, conclui Renato.
Num passado recente, a estiagem contribuiu para que a safra de 2017/18 de cana-de-açúcar em Pernambuco ficasse em 10,9 milhões de toneladas, enquanto na safra de 2011/2012 a colheita da planta em Pernambuco chegou a 17,4 milhões de toneladas.

Fonte: Movimento Econômico