Fonte: O Estado de S. Paulo
Depois do setor elétrico, o próximo da lista dos possíveis afetados pela forte estiagem que atinge a Região Centro-Sul é o agronegócio. Ainda não há dados consolidados sobre o estrago que a falta de chuvas combinada com altas temperaturas têm provocado no campo. Mas produtores de grãos, verduras, café, laranja e pecuaristas estão apreensivos em relação às prováveis perdas, que já se traduzem em alta de preços.
Desde o fim de janeiro, as cotações de milho, soja e trigo subiram cerca de 5% em dólar na Bolsa de Chicago. Em Nova York, o café teve valorização de 19%. As verduras estavam 30% mais caras no atacado do Ceagesp na última semana.
“Nos últimos anos, o problema era o excesso de chuvas, agora é a seca”, afirma o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Biritiba-Mirim, Ronald Tuda, que reúne cerca de 300 agricultores de hortaliças no cinturão verde de São Paulo.
Ele calcula 70% de perdas nas lavouras de verduras da região por causa da seca. O engradado com 80 pés de alface, por exemplo, que saía por R$ 30 no mês passado, hoje custa R$ 80. Apesar da valorização do preço ao produtor, os agricultores não estão se beneficiando. “Tem produtor parado há mais de um mês, esperando a chuva para plantar.”
Nos grãos, o quadro é heterogêneo. No caso da soja, apesar de alguns importantes Estados produtores estarem sendo afetados pela seca, essa possível redução da produção deverá ser compensada por rendimentos acima das expectativas, já observados em algumas localidades dos Estados de Mato Grosso, Rondônia e Paraná, onde a produtividade média deve superar 55 sacas por hectare, avalia a consultoria Informa Economics FNP. Segundo a consultoria, a produção de soja deverá atingir a marca de 89,7 milhões de toneladas.
Em Goiás, os produtores de soja enfrentam a falta de chuvas regulares desde meados de dezembro e calculam uma perda de safra de aproximadamente 15%, o equivalente a 1,4 milhão de toneladas. “Isso pode representar prejuízos de mais de R$ 1,3 bilhão”, diz Pedro Arantes, consultor da regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
Já o cenário é diferente para o milho. Segundo a consultoria, os rendimentos observados na safra de milho de verão estão entre 5% e 10% abaixo das expectativas do início da safra. A combinação de pouca chuva nos Estados de São Paulo, no norte do Paraná, Minas Gerais e Goiás nos últimos meses e a redução das áreas plantadas devem resultar numa produção cerca de 10% menor em relação à do ano passado, calcula a FNP.
Perenes. O risco de estrago da seca inclui lavouras perenes, isto é, aquelas que são plantadas apenas uma vez. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Fábio Meirelles, informa danos nas plantações de cana, laranja, café e nas pastagens, embora ainda não consiga quantificar os prejuízos. “No café, já se perdeu muito da fase de nascimento das mudas e a pastagem secou”, exemplifica. Aos 85 anos e dono de terras herdadas do tataravô na região de Mogiana, Meirelles conta que nunca havia visto seca como a atual.
Em Guaxupé (MG), polo produtor de café para exportação, não chove desde o início de janeiro, diz o presidente da Cooxupé, Carlos Paulino. A falta de chuva na fase de formação do grão pode reduzir em 20% a safra da cooperativa, estimada em 4,7 milhões de sacas. Desde janeiro, o preço em reais ao produtor na região subiu 32%. Mas não é certo que o cafeicultor tire vantagem da situação, caso ele não tenha café para vender.
“A esperada desaceleração dos alimentos pode não ocorrer e há risco de que a comida pressione a inflação no 2.º trimestre”, alerta o diretor da GO Associados, Fabio Silveira.